
Cavaleiro
Se a luz desaparecesse
E a treva inundasse
A paz serena do teu olhar,
Encontrarias tu a volta
Para o teu caminho sombrio?
Se a treva invadisse a minha vida
Serias tu, cavaleiro da luz ausente,
Capaz de iluminar a minha alma?
Se nessa nesga de luz
O mal tomasse conta de mim
Eras capaz de me matar para me salvar?
Terias tu todos os atributos
E honras para tal?
Diz a verdade, ignóbil cavaleiro,
Já conseguiste escapar das trevas?
Ou elas ainda habitam em ti?
Sei que o teu caminho
Parte do fim para o principio;
Sei que o teu mundo
Gira, irremediavelmente ao contrário;
Sei que a luz
Foi o começo da tua escuridão;
Sei que a tua vida
Nada mais não é do que a morte
Em estar vivo,
Sem nada poder fazer
Para recuperar a luz;
Mas também sei, ausente cavaleiro,
Que toda a luz que de ti emana
É pura e recheada de alma.
Por isso, em ti deposito a minha vida
Para que ela se ilumine
E volte a ter razão para brilhar
Na escuridão de que somos feitos.